sábado, 14 de julho de 2012

O Fado de José Malhoa


A iniciativa do JN/DN continua com mais 8 inéditos.

Os ilustradores são Sara Franco, Daniel Lima, Jorge Nesbitt, José Manuel Saraiva, João Maia Pinto, Joana Rosa Bragança, Luís Manuel Gaspar e Teresa Amaral

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Antónia GT

Foi uma primeira tentativa de recriação do quadro do pintor José Malhõa, "O Fado", para uma encomenda recente, para a agência Tugaland.link

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sara Franco

http://sara-franco.blogspot.pt/2012/06/o-fado-de-jose-malhoa.html
Ilustração de Sara Franco para uma nova série de ilustrações da iniciativa "O Fado de José Malhoa" (A Bela e O Monstro) lançada pelo DN e  JN - colecção de CDs de fado

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Antónia GT

Santo António Canta o fado à mulher manjerico

Porque estamos em plenos Santos Populares, porque é Junho, porque gosto de fado vadio, porque Santo António é o meu santinho...porque sim!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rodrigo


Saturnia

“Como é que José Malhoa pintou um dos mais famosos quadros pintados em Portugal no século XX, o Fado?Ele explicou-o á Luta, em 20 de Março de 1915.Tinha sido seis anos antes, em 1999: «Por uma tarde parada, como esta, de olhos semicerrados, pensava eu no meu atelier, em planos vagos a realizar.Uma guitarra, sobre uma banca, fez-me meditar nisto: quem teria feito o primeiro fado?»Ficou «embevecido» nesse «sonho», «fazendo passar, ante meus olhos, todas as Severas, de cigarro na boca e perna traçada, cantando a melancólica canção das perdidas…» Fez um esboço.A esposa viu-o e incitou-o a continuar. Durante quatro meses, Malhoa andou pelo Bairro Alto, Alfama e Mouraria, «vendo aquela vida que tão necessária era para o meu trabalho, e depois atirei-me ao quadro». Trabalhou durante dois meses com modelos profissionais. No entanto, foi ficando cada vez mais insatisfeito: «esses modelos não me davam nada do que eu sentia e via no natural». Um fidalgo boémio, seu conhecido, daqueles que passavam o tempo em patuscadas e deboche nos bairros populares de Lisboa, prontificou-se então a apresentá-lo a gente de condição cada vez mais baixa, até que a certa altura Malhoa se achou na Tendinha do Rossio, entre os cocheiros da praça, por via de quem veio a conhecer um «mariolão» cadastrado. Foi este «mariolão» quem finalmente arranjou a Malhoa um «fadista a valer», o Amâncio.«A este fadista, o Amâncio», explicou Malhoa em 1915, «devo eu o ter pintado o meu quadro». Malhoa mostrou-lhe os desenhos que fizera com modelos profissionais. O «fadista» discordou:«isso não é um fadista. Nós cá usamos o cabelo cortado à meia-laranja; o atacador é até á bica, e quando cantamos, sem olhar para quem, é preciso que disfarçadamente se veja, no bolso da calça da perna esquerda, o cabo da navalha».Malhoa penintenciou-se.A partir dali, decidiu-se a trabalhar com o Amâncio, que também lhe arranjou o outro personagem do futuro do quadro, a «Adelaide da facada,quinté parece uma Severa», segundo o fadista. Na companhia do Amâncio Malhoa penetrou na mal afamada Rua do Capelão, rua tão notória que o pintor, completamente deslocado na paisagem, foi imediatamente interceptado pelo polícia de ronda, a quem teve de explicar que não era o deboche, mas a arte que lá o levava. A Adelaide justificou a descida de Malhoa aos infernos. Era «uma bela mulher, de seio rijo, braços esculturais, rosto interessante, desfeado apenas na face esquerda pelo traço duma grane facada, da orelha até á boca». Em casa dela, Malhoa examinou detidamente esse interior: a meia cómoda com a sua toalha de ramagem vermelha, e por cima o clássico croché; os santinhos na parede; o vaso de manjerico com o seu cravo de papel; a bola suja suja do pó- de-arroz; o pequeno toucador do espelho com a gaveta aberta, e sobre ele o pente de alisar, os cigarros, a a garrafa de vinho». Durante 35 dias seguidos saiu do seu estúdio, nas refinadas Avenidas Novas, e foi tomar notas a casa da Adelaide. As prostitutas do sítio chamavam-lhe o «Pintor Fino», para o distinguirem do «Pintor», um dos mais célebres gatunos de Lisboa. Por fim, Malhoa, quis mostrar o seu primeiro carvão do quadro à Adelaide. Mas a Adelaide não queria ir à Avenida 5 de Outubro, um mundo completamente aparte da sua rua de bordeis. Teve de ser o Amâncio, mais viajado, quem a forçou a subir às Avenidas Novas. Foi um momento emocionante. Mal viu o carvão de Malhoa, a Adelaide rendeu-se: « Amâncio, aquilo já parece quando a gente estava lá em casa na paródia.» Malhoa sentiu-se feliz. Gastou ainda 11 meses a trabalhar o quadro. Mas ficou satisfeito:« Não há nessa tela apenas um fadista e uma rameira. Há ali uma mulher encantada ao ouvir o seu melhor afecto, que lhe canta ao coração.»

in “ A invenção de Portugal” de Rui Ramos /período 1890-1926

Saturnia

domingo, 8 de abril de 2012

Fados da República


ESPECTÁCULO APRESENTAÇÃO - FADOS DA REPÚBLICA
DIA: 29 de Setembro (18,30 horas)
LOCAL: Fundação Mário Soares - integrada na Exposição "Enfim a República!"

Este espectáculo procura recriar Fados e poemas situados na queda da Monarquia fazendo um enquadramento histórico e cultural. Traz-se assim aos nossos dias a voz dos poetas que marcaram uma época acompanhados com uma linguagem musical portuguesa, orgânica, mas moderna mostrando assim os caminhos que a República abriu quer a nível de mentalidades, de vivências e de paixões"

O projecto pressupõe a edição de um disco com 12 músicas seguido de digressão nacional com espectáculos (...)"

J.M.M./ Almanaque Republicano

o desafio foi fazer a ilustração para a capa
dos Fados da República
tinha de me inspirar n'O Fado de malhoa
e olha,
saiu um fado miserável
a apresentação é do cd é dia 29 na Fundação Mário Soares
e aqui já se podem ouvir alguns dos temas

blog de Mariana, a miserável

sábado, 24 de março de 2012

Jorge Miguel


Na banda desenhada portuguesa predominam as obras experimentais e de autor. Ou seja, há muita BD alternativa, que não é, em boa verdade, alternativa a coisa nenhuma, pelo menos não em termos de BD nacional. Por outro lado, as tentativas de traçar rumos distintos têm sobretudo referências norte-americanas (com vários autores a trabalhar nesse mercado) e nipónicas. Isto não é uma crítica ou um lamento, até pela qualidade evidente nas várias áreas, apenas uma constatação. Mas neste contexto o muito interessante trabalho de Jorge Miguel, com as suas influências europeias e distintos mecanismos narrativos corre o sério risco de passar injustamente despercebido, por não se encaixar nas principais correntes atuais.

(texto publicado no JL-Papel) João Ramalho-Santos

10:47 Segunda, 29 de Agosto de 2011

Jorge Miguel já tinha surpreendido com Camões: De vós não conhecido nem sonhado, uma abordagem inteligente ao protagonista no seu tempo histórico. E O Fado Ilustrado (Plátano) é, num certo sentido, ainda mais interessante. Com referências à implantação da República, o livro fala um pouco da situação política (de D. Carlos à Carbonária ao Ultimato à Primeira Grande Guerra), com a capa a imitar um jornal da época. Mas há também muito Eça de Queirós. São vários temas cruzados, há constantes saltos temporais e não é fácil por vezes seguir os eventos, parecendo o livro parte de um todo maior. Paradoxalmente, o estilo narrativo e o tom gráfico realista com toques caricaturais são de absoluta clareza, sugerindo um estilo de BD pedagógica com uma longa história entre nós. Mas, se Jorge Miguel se preocupa em fornecer diferentes tipos de informação, esta não é uma obra clássica nesses moldes (onde as grandes referências serão José Garcês e José Ruy). Pelo contrário: é preciso saber (ou ir procurar) para seguir convenientemente O Fado Ilustrado. Por outro lado, e sem ceder ao realismo, surge por vezes uma componente humorística inesperada. É desse ponto de vista que o livro, tal como o seu antecessor, surpreende, fugindo a todos os cânones.

De resto todos os temas referidos funcionam como um vasto pano de fundo para o verdadeiro assunto: uma recriação ficcionada de como o pintor José Malhoa terá pintado o seu famoso quadro, O Fado. Qual a história por detrás da obra? Quem são o guitarrista e a mulher que o olha embevecida, como chegaram àquela pose? De que (sub)mundo lisboeta nasceram, e o que nos diz o quadro sobre o seu tempo? Numa altura de crise e potencial mudança, entre a intervenção e a indiferença, como era o país visto através das escolhas de um pintor? E, sujeito hoje ao olhar-opinião de Jorge Miguel (e de cada leitor), de que modo mudou, cem anos depois? O que é (são) O Fado? Intencional ou menos, a reflexão sobre representados e representação, pessoas e símbolo, é ainda mais interessante porque surge com naturalidade no fluir de uma história, não enquanto tratado ou manifesto.

Por entre as boas re-edições históricas, experimentações variadas, e emulações de "mangá" e "comics" que marcam a BD nacional tem de haver um lugar de maior destaque para Jorge Miguel, que não seja apenas uma espécie de limbo não catalogável. Esta é claramente uma voz inovadora em construção, que merece ser ouvida.

O Fado Ilustrado. Argumento e desenhos de Jorge Miguel. Plátano. 48 pp., 12 Euros.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Fado

12 capas com reinterpretações do quadro "O Fado"



12 CD com os grandes Fados e os seus intérpretes, desde as primeiras gravações até aos nossos dias. Capas desenhadas por alguns dos melhores ilustradores, reinterpretando "O Fado", o quadro centenário de José Malhoa. A partir de 23 de março, às sextas, com o JN ou com o DN.

Silêncio, que se vai lançar uma grande coleção.

O JN e o DN assinalam o centenário de "O Fado" de José Malhoa com uma coleção que ninguém vai querer perder. Agora que o Fado ganhou o estatuto de Património Imaterial Cultural da Humanidade, trazemos até si um registo único e completo com a história do fado, desde que há registos sonoros, interpretados por grandes fadistas.

Os primeiros 8 CD são um tributo a grandes fadistas que ajudaram a imortalizar o Fado, como Amália, Alfredo Marceneiro ou Tony de Matos. Os restantes 4 CD incluem fados tradicionais, como o menor, o corrido e o mouraria, cantados pelas grandes promessas da atualidade.

Coleção composta por 12 entregas, distribuídas às sextas, de 23 de março a 8 de junho de 2012, com o JN ou com o DN; 1.ª entrega euro1,99, restantes entregas euro3,99 cada. Preço total da coleção: euro45,88 + preço dos jornais.

12 CD COM OS GRANDES FADOS E OS SEUS INTÉRPRETES, DESDE AS PRIMEIRAS GRAVAÇÕES ATÉ AOS NOSSOS DIAS.

CAPAS DESENHADAS POR ALGUNS DOS MELHORES ILUSTRADORES, REINTERPRETANDO O "FADO", O QUADRO CENTENÁRIO DE JOSÉ MALHOA.

André Carrilho, Nuno Saraiva, Miguel Rocha, Antónia Trituré, Pedro Zamith, Vasco Gargalo, Afonso Ferreira, Jorge Mateus, Fernando Martins, Júlio Vanzeler, Tiago Albuquerque, João Moreno



quinta-feira, 8 de março de 2012

A. Tapadinhas


Acrílico sobre tela 100x120cm

Fado, Malhoa, e o que mais adiante se verá...

Estava a jantar com minha mulher,
algo que não faço tantas vezes como devia
num restaurante de que eu gosto muito, porque para além da excelente qualidade da comida,
o que por si só, já seria um bom motivo para o frequentar
também aprecio o bom gosto das telas expostas,
são todas minhas
quando o meu amigo Bernardo, dono do restaurante,
curiosamente, quando estive no Rio de Janeiro, fiz questão de passar um dia na “Ilha do Bernardo”, para lhe trazer uma lembrança da “sua” ilha
me pediu para atender um senhor, construtor civil, que queria fazer-me um pedido.
normalmente é para ver se eu concedo um desconto nalguma obra exposta
Acedi, sem grande esperança. Afinal, estava redondamente enganado com as suas intenções!
acontece aos melhores!
O senhor queria que eu lhe fizesse uma tela, grande,
grande – substantivo, não, grande – adjectivo
para colocar na adega da sua casa, que seria inaugurada dentro de alguns meses.
Quando comecei a dar a desculpa habitual para me esquivar a aceitar compromissos,
estilo: “Não tenho tempo! Estou muito ocupado"
o senhor não quis ouvir as minhas razões
era construtor civil, lembram-se?
e disse-me que até tinha ideia do que queria. Aí eu fiquei atento!
construtor civil com ideias, coisa estranha!
Queria que eu fizesse um quadro ao estilo de Malhoa,
José Malhoa, pintor português, naturalista, 1855-1933
com aquela conhecidíssima figura da sua obra “Festejando o S. Martinho”.
repetida em reproduções baratas, ad nauseum
Achei um bom desafio: não tinha muita paciência para pintar como Malhoa,
à data da sua morte o seu estilo já era contestado pelos mais novos
mas como também não tinha dinheiro, resolvi aceitar a encomenda.
fiz mal como se verá!
Para não fazer uma cópia do óbvio, resolvi criar uma composição com duas obras de Malhoa e seleccionar cartazes da época
para o meu ego não ficar muito ferido
para pregar nas paredes da tasca onde se iria passar a cena.
Triste!
Para dar algum realismo às paredes, adicionei areia à tinta,
as pintinhas, suponho que parecem aquelas coisas que as moscas deixam nas paredes
e o claro-escuro do interior, mais escuro ainda, como é costume para ouvir os acordes plangentes da guitarra e os sons maviosos do cantor de fado.
e ninguém notar se quisermos dormir uma soneca!
Quando a obra ficou pronta, combinei com o meu amigo Bernardo, colocá-la no restaurante e o senhor construtor passar por lá para a poder apreciar em todo o seu esplendor. Adorou-a! Mas
há sempre um mas
não lhe convinha fazer mais despesas, naquela altura!
a crise toca a todos, não é? Menos aos pintores, acho eu...
E assim fiquei com uma obra que está exposta no “Restaurante Napolitano” do meu amigo Bernardo. Acreditam que já foi mandada guardar por um senhor que teve de sair para os Açores e ainda não apareceu?
Até hoje!

A. Tapadinhas

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Luis Duarte


Luis Duarte é uma admirador incondicional da obra do magnifico pintor Malhoa. Tem, como objectivo reproduzir em talha os principais quadros daquele artista.

O Fado, é um conhecido quadro de Malhoa

A reprodução fotográfica não faz justiça à obra. Nesta reprodução nenhum pormenor foi esquecido.

gente deTALHAda 18.03.2008

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Samarionetas



Fado Portugal - uma história de faca e alguidar é uma viagem ao ambiente boémio do início do século XX em Portugal onde o Fado começa a aparecer.

As personagens do quadro do pintor Malhoa ganham vida e a Adelaide da Facada e o Amâncio vão viver várias peripécias onde se retrata, o “sentir” e o “ser português” bem como o “FADO Português”. A saudade, a tristeza, a alegria, o amor, são os sentimentos que caracterizam o povo português e que se retratam neste espectáculo.

Do fado vadio às desgarradas as personagens preenchem o espaço onde o movimento e a música ocupam o lugar da palavra.

Samarionetas, 2011

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sérgio Reis

A recente distinção da UNESCO, declarando a importância cultural do fado para a Humanidade (1) abre boas perspetivas de projeção internacional do espírito criativo português e das artes nacionais.

Para além dos poetas populares (com destaque para João Linhares Barbosa, o “Príncipe dos Poetas” do fado), os fadistas cantam com grande gosto e exemplar dignidade alguns dos nossos melhores poetas cultivados (António Botto, Sidónio Muralha, Pedro Homem de Mello, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, Vasco Graça Moura,…) mas o fado enquanto acendalha do espírito relaciona-se bem com outras artes eruditas: o cinema, as artes plásticas e até a dança. Esse fado que é um sinónimo de destino, muitas vezes malfadado, sofrido, cruel, e por isso canção amarga e magoada.

Nem por acaso, a divulgação nacional do fado começou na década de 1930 através do cinema sonoro, popularizando na tela fadistas como Dina Tereza, Amália Rodrigues ou Hermínia Silva. Dina Tereza, hoje pouco recordada, interpretou a mítica fundadora do fado, Maria Severa, no primeiro filme sonoro produzido em Portugal e realizado por um português (José Leitão de Barros, em 1930). À distância de uma vida, em 2006, o cineasta espanhol Carlos Saura homenageou o fado como canção ibérica, relacionando-o com os ritmos hispânicos da música e da dança no documentário musical “Fado”. E aproveitando a embalagem internacional da UNESCO, o realizador João Botelho promete para 2012 um musical sobre o fado, protagonizado por fadistas e rodado em Lisboa.

Nas artes plásticas, o fado inspirou os maiores artistas portugueses dos séculos XIX e XX, como ficou demonstrado na importante exposição “Ecos do Fado na Arte Portuguesa Séculos XIX-XXI” (2), que decorreu em Lisboa entre julho e setembro de 2011. Ao longo desses séculos, a arte nacional contribuiu pouco para as artes internacionais mas foi absorvendo e consagrando os mais diversos géneros e modalidades artísticas, sendo possível encontrar uma ligação transversal relacionável com o fado, ou com as representações do fado, o que justificou plenamente a apresentação conjunta de obras de artistas tão diversos como Roque Gameiro, Columbano, José Malhoa, Almada Negreiros, Amadeo Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Domingos Alvarez, Bernardo Marques, Stuart Carvalhais, João Abel Manta, Carlos Botelho, Júlio Pomar, Leonel Moura, Graça Morais, Paula Rego, João Vieira, Joana Vasconcelos, João Pedro Vale ou Miguel Palma.

Uma das curiosidades e méritos da exposição “Ecos do Fado” foi mostrar lado a lado as duas versões do mais famoso quadro de José Malhoa, “O Fado”, o que acontece pela segunda vez no século e em anos consecutivos (3), assim como dois estudos para essa obra: o Amâncio (1908) e a Adelaide (sem data). “O Fado” de 1909, mais pequeno que a segunda versão, foi apresentado ao público em 1962 através de uma reprodução no Diário de Lisboa, e pertence atualmente a um colecionador particular português. Supõe-se que terá sido um estudo para o quadro maior, de 1910, patente no Museu do Fado.

Ambos os quadros apresentam a mesma composição e retratam o guitarrista Amâncio e Adelaide “da facada” – assim conhecida devido à cicatriz na face que o pintor ocultou. O cenário evoca o interior de uma “alfurja” (antro, alcouce), onde se recompunham “das desditas ouvindo o fado que diz da sua má sorte e em que todas as trovas são de perdão” (4). A realização da primeira obra, pintada com esses modelos em pose, foi condicionada pelas frequentes passagens de Amâncio pela prisão e pelos seus reparos ciumentos ao modo como Malhoa pintava Adelaide.

Apesar do estatuto cultural que duramente conquistou ao longo do século XX até à recente consagração internacional, o fado não nega as suas origens humildes e o quadro de José Malhoa continua a ser a representação mais sensível do sentimento fadista e o melhor retrato do seu berço trágico.

Sérgio Reis

(Artigo publicado no jornal "Vivências...", nº4, dezembro 2011)

Notas:

(1) - A 28 de novembro de 2011, em Bali, o VI Comité Intergovernamental da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) declarou o fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade. A candidatura propunha uma rede de cooperação institucional em estreita ligação com a sociedade civil, uma vertente de educação e formação, um programa editorial (livros e discos), a dinamização e revitalização de espaços tradicionais de fado e a promoção no plano nacional e internacional do universo e da cultura do fado.

(2) - Promovida pela Câmara Municipal de Lisboa através da EGEAC/Museu do Fado no âmbito da candidatura do fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

(3) - A primeira vez foi em 2010, na exposição “O Fado de 1910”, realizada na SNBA em Lisboa a propósito das comemorações do centenário da República.

(4) - António Montês, “Malhoa Intimo”, Lisboa, 1950.

Ver ligação para o artigo com vários exemplos de homenagens à obra de José Malhoa