sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sara Franco

http://sara-franco.blogspot.pt/2012/06/o-fado-de-jose-malhoa.html
Ilustração de Sara Franco para uma nova série de ilustrações da iniciativa "O Fado de José Malhoa" (A Bela e O Monstro) lançada pelo DN e  JN - colecção de CDs de fado

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Antónia GT

Santo António Canta o fado à mulher manjerico

Porque estamos em plenos Santos Populares, porque é Junho, porque gosto de fado vadio, porque Santo António é o meu santinho...porque sim!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rodrigo


Saturnia

“Como é que José Malhoa pintou um dos mais famosos quadros pintados em Portugal no século XX, o Fado?Ele explicou-o á Luta, em 20 de Março de 1915.Tinha sido seis anos antes, em 1999: «Por uma tarde parada, como esta, de olhos semicerrados, pensava eu no meu atelier, em planos vagos a realizar.Uma guitarra, sobre uma banca, fez-me meditar nisto: quem teria feito o primeiro fado?»Ficou «embevecido» nesse «sonho», «fazendo passar, ante meus olhos, todas as Severas, de cigarro na boca e perna traçada, cantando a melancólica canção das perdidas…» Fez um esboço.A esposa viu-o e incitou-o a continuar. Durante quatro meses, Malhoa andou pelo Bairro Alto, Alfama e Mouraria, «vendo aquela vida que tão necessária era para o meu trabalho, e depois atirei-me ao quadro». Trabalhou durante dois meses com modelos profissionais. No entanto, foi ficando cada vez mais insatisfeito: «esses modelos não me davam nada do que eu sentia e via no natural». Um fidalgo boémio, seu conhecido, daqueles que passavam o tempo em patuscadas e deboche nos bairros populares de Lisboa, prontificou-se então a apresentá-lo a gente de condição cada vez mais baixa, até que a certa altura Malhoa se achou na Tendinha do Rossio, entre os cocheiros da praça, por via de quem veio a conhecer um «mariolão» cadastrado. Foi este «mariolão» quem finalmente arranjou a Malhoa um «fadista a valer», o Amâncio.«A este fadista, o Amâncio», explicou Malhoa em 1915, «devo eu o ter pintado o meu quadro». Malhoa mostrou-lhe os desenhos que fizera com modelos profissionais. O «fadista» discordou:«isso não é um fadista. Nós cá usamos o cabelo cortado à meia-laranja; o atacador é até á bica, e quando cantamos, sem olhar para quem, é preciso que disfarçadamente se veja, no bolso da calça da perna esquerda, o cabo da navalha».Malhoa penintenciou-se.A partir dali, decidiu-se a trabalhar com o Amâncio, que também lhe arranjou o outro personagem do futuro do quadro, a «Adelaide da facada,quinté parece uma Severa», segundo o fadista. Na companhia do Amâncio Malhoa penetrou na mal afamada Rua do Capelão, rua tão notória que o pintor, completamente deslocado na paisagem, foi imediatamente interceptado pelo polícia de ronda, a quem teve de explicar que não era o deboche, mas a arte que lá o levava. A Adelaide justificou a descida de Malhoa aos infernos. Era «uma bela mulher, de seio rijo, braços esculturais, rosto interessante, desfeado apenas na face esquerda pelo traço duma grane facada, da orelha até á boca». Em casa dela, Malhoa examinou detidamente esse interior: a meia cómoda com a sua toalha de ramagem vermelha, e por cima o clássico croché; os santinhos na parede; o vaso de manjerico com o seu cravo de papel; a bola suja suja do pó- de-arroz; o pequeno toucador do espelho com a gaveta aberta, e sobre ele o pente de alisar, os cigarros, a a garrafa de vinho». Durante 35 dias seguidos saiu do seu estúdio, nas refinadas Avenidas Novas, e foi tomar notas a casa da Adelaide. As prostitutas do sítio chamavam-lhe o «Pintor Fino», para o distinguirem do «Pintor», um dos mais célebres gatunos de Lisboa. Por fim, Malhoa, quis mostrar o seu primeiro carvão do quadro à Adelaide. Mas a Adelaide não queria ir à Avenida 5 de Outubro, um mundo completamente aparte da sua rua de bordeis. Teve de ser o Amâncio, mais viajado, quem a forçou a subir às Avenidas Novas. Foi um momento emocionante. Mal viu o carvão de Malhoa, a Adelaide rendeu-se: « Amâncio, aquilo já parece quando a gente estava lá em casa na paródia.» Malhoa sentiu-se feliz. Gastou ainda 11 meses a trabalhar o quadro. Mas ficou satisfeito:« Não há nessa tela apenas um fadista e uma rameira. Há ali uma mulher encantada ao ouvir o seu melhor afecto, que lhe canta ao coração.»

in “ A invenção de Portugal” de Rui Ramos /período 1890-1926

Saturnia